Estava
lindo, também achou? Charmoso, um ar moderno, organizado e limpo; até
impressionava. Quem não conheça a alma, até achava que estava na Europa. Pipoca
a R$ 10, refrigerante a R$ 7, muita gente não só achava, tinha certeza que
estava no velho continente, só faltou ser em Euro. O estádio está muito pra
eles, muito deles, pouco nosso, pouquíssimo para nós. Mas é assim, aqui nessa
terra sempre foi desse jeito, tudo que é nosso, para ficar melhor, tem que
virar deles, se não a graça some. E ontem, mesmo lindo, o Maracanã não era mais
nosso, mas continua sendo o Maracanã, a alma está lá, amarrada, amordaçada,
pena que em um céu cinza de Londres.
Não,
não é uma critica velada ao estádio ou aos políticos que arrebentaram uma das
maiores provas de junção social do Brasil. O grande berço da mistura de raças,
o principal cartão postal da Cidade dos cartões postais já não é mais o mesmo,
mas continua sendo lindo, mesmo não sendo o de antes. Maraca, quanta história,
quantas lagrimas foram derramadas em suas placas de concreto, quantos foram os
homens que diante de ti viraram meninos, quanto dias ficaram melhores aos seus
olhos e quantos brasileiros só tinham motivos de sorrir ao entrar em ti? E
hoje, quando de longe vemos a arquibancada de um Brasil e Inglaterra, vemos
tudo, menos o Brasil. Ficastes Inglaterra, só faltou a rainha. Deus salve a
rainha.
Telões,
quatro deles. Todos em alta definição, passando informações em duas línguas,
hora em Português, hora em Inglês; mas não a nossa. Não tem a nossa cara,
quanto mais a nossa língua. Tem um português lá, acho que algo que eles falam
em Brasília. Tem as cadeiras também, ótimas, ideais para assistir qualquer
partida de Vôlei, Basquete ou Tênis, mas para ver futebol é exagerado, pode não
ser na Espanha, mas aqui é exagero. Não estou dizendo que os espanhóis são
melhores que nós e por isso eles merecem cadeiras macias, mas não tem a nossa
cara, não é povo, não é Brasil. Pergunte ao seu avô onde ele virou homem, se
foi em um botequim ou em uma choperia? Choperia é bom, na Alemanha; não na
Lapa, lá o que vende é botequim. Aqui é assim, somos o Brasil do boteco, o povo
dos ambulantes chatos, a nação que compra amendoim do Tio do Amendoim e não da
marca francesa.
Você
não é obrigado a entender, talvez não tenha frequentado o Maracanã do passado e
muito menos irá nesse do futuro, portando tudo isso é besteira e “melindre” ou “exagero”.
Pode ser, é seu direito pensar assim, ainda mais aqui, onde estamos sendo
Inglaterra demais. Você deve fazer parte daquela turma que está louca para
fazer o Rio de Janeiro virar Londres, com céu cinza e pessoas secas. Mas
lembre-se, começa com o estádio, amanhã é a música, depois a dança, festas,
brincadeiras e quando dermos conta do que anda acontecendo, estaremos reunidos
em uma sala, sentados com os amigos bebendo um chá quente em plena sexta-feira
de verão. Abra o olho e espie o que estão fazendo com a nossa cultura, querem
mudar você, estão mudando tudo aquilo que você chama de “Seu”. Conspiração?
Talvez, pois o poeta já disse: “Quer exterminar um povo? Comece destruindo sua
cultura!”.