segunda-feira, 3 de junho de 2013

Pátria amada, Inglaterra!


Estava lindo, também achou? Charmoso, um ar moderno, organizado e limpo; até impressionava. Quem não conheça a alma, até achava que estava na Europa. Pipoca a R$ 10, refrigerante a R$ 7, muita gente não só achava, tinha certeza que estava no velho continente, só faltou ser em Euro. O estádio está muito pra eles, muito deles, pouco nosso, pouquíssimo para nós. Mas é assim, aqui nessa terra sempre foi desse jeito, tudo que é nosso, para ficar melhor, tem que virar deles, se não a graça some. E ontem, mesmo lindo, o Maracanã não era mais nosso, mas continua sendo o Maracanã, a alma está lá, amarrada, amordaçada, pena que em um céu cinza de Londres.

Não, não é uma critica velada ao estádio ou aos políticos que arrebentaram uma das maiores provas de junção social do Brasil. O grande berço da mistura de raças, o principal cartão postal da Cidade dos cartões postais já não é mais o mesmo, mas continua sendo lindo, mesmo não sendo o de antes. Maraca, quanta história, quantas lagrimas foram derramadas em suas placas de concreto, quantos foram os homens que diante de ti viraram meninos, quanto dias ficaram melhores aos seus olhos e quantos brasileiros só tinham motivos de sorrir ao entrar em ti? E hoje, quando de longe vemos a arquibancada de um Brasil e Inglaterra, vemos tudo, menos o Brasil. Ficastes Inglaterra, só faltou a rainha. Deus salve a rainha.


Telões, quatro deles. Todos em alta definição, passando informações em duas línguas, hora em Português, hora em Inglês; mas não a nossa. Não tem a nossa cara, quanto mais a nossa língua. Tem um português lá, acho que algo que eles falam em Brasília. Tem as cadeiras também, ótimas, ideais para assistir qualquer partida de Vôlei, Basquete ou Tênis, mas para ver futebol é exagerado, pode não ser na Espanha, mas aqui é exagero. Não estou dizendo que os espanhóis são melhores que nós e por isso eles merecem cadeiras macias, mas não tem a nossa cara, não é povo, não é Brasil. Pergunte ao seu avô onde ele virou homem, se foi em um botequim ou em uma choperia? Choperia é bom, na Alemanha; não na Lapa, lá o que vende é botequim. Aqui é assim, somos o Brasil do boteco, o povo dos ambulantes chatos, a nação que compra amendoim do Tio do Amendoim e não da marca francesa.



Você não é obrigado a entender, talvez não tenha frequentado o Maracanã do passado e muito menos irá nesse do futuro, portando tudo isso é besteira e “melindre” ou “exagero”. Pode ser, é seu direito pensar assim, ainda mais aqui, onde estamos sendo Inglaterra demais. Você deve fazer parte daquela turma que está louca para fazer o Rio de Janeiro virar Londres, com céu cinza e pessoas secas. Mas lembre-se, começa com o estádio, amanhã é a música, depois a dança, festas, brincadeiras e quando dermos conta do que anda acontecendo, estaremos reunidos em uma sala, sentados com os amigos bebendo um chá quente em plena sexta-feira de verão. Abra o olho e espie o que estão fazendo com a nossa cultura, querem mudar você, estão mudando tudo aquilo que você chama de “Seu”. Conspiração? Talvez, pois o poeta já disse: “Quer exterminar um povo? Comece destruindo sua cultura!”.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Nunca morreu-se tanto no mundo


Acendeu o pavio, puxou a cordinha e pronto, lá se foi o sinalizador. Mal sabia ele que, aquele sinalizador, deixaria um sinal eterno em sua vida. Sua não, suas vidas. O jovem morreu no campo de futebol, ou melhor, na arquibancada, mas morrem também nas escolas, boates, cinemas, festas, trotes desumanos e ruas desse Brasil. Brasil não, é muita coisa para colocar nas costas desse País, morre-se assim no Mundo todo. Sabe o que mais choca na tal da morte do menino da Bolívia? É essa nossa mania de procurar culpados. Culpe ele, culpe o clube, culpe a torcida, culpe a polícia, culpe a confederação, culpe quem não culpa, pois só o homem consegue dizer que é errado quem não culpa.
Da morte de Kevin Beltran, por mais que a turma do culpe queira, precisamos tirar algo maior do que a vítima e o culpado. Não, não podemos absolver quem matou, seja com intenção ou sem, mas é preciso olhar para outra coisa por trás dessa morte: Ficou banal morrer! Morre-se muito nos dias de hoje. No Brasil, morre-se na boate; na Bolívia, morre-se na arquibancada; nos Estados Unidos, morre-se na escola; na Espanha, morre-se no trem; nunca morreu-se tanto no mundo.